Como a formação continuada pode melhorar a inclusão nas escolas

Como professor de filosofia em uma escola pública estadual no Espírito Santo, vejo diariamente a diversidade de realidades v

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em 26 de jun de 2024, às 11h07

Foto: Divulgação
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Por Eduardo Machado

Como professor de filosofia em uma escola pública estadual no Espírito Santo, vejo diariamente a diversidade de realidades e desafios enfrentados por nossos estudantes. Para que a educação possa realmente ser um instrumento de transformação social e inclusão, é fundamental que os professores estejam preparados para lidar com essa diversidade. A formação continuada dos professores é um elemento crucial nesse processo, proporcionando as ferramentas necessárias para criar ambientes educacionais inclusivos e acolhedores.

A formação continuada não é apenas uma exigência burocrática; ela é, sobretudo, uma oportunidade de crescimento profissional e pessoal. Em um cenário educacional em constante mudança, onde novas metodologias, tecnologias e desafios surgem a cada dia, os professores precisam estar sempre atualizados e bem preparados. Isso é particularmente verdadeiro quando se trata de inclusão, um campo que requer sensibilidade, conhecimento especializado e uma abordagem prática e empática.

Uma formação continuada eficaz deve abordar diversos aspectos que impactam a inclusão nas escolas. Primeiramente, é essencial que os professores sejam capacitados para entender as necessidades específicas de alunos com deficiências físicas, intelectuais e sensoriais. Isso inclui o conhecimento sobre tecnologias assistivas, estratégias pedagógicas diferenciadas e formas de adaptar o currículo para que todos os alunos possam participar plenamente das atividades escolares.

Além disso, a formação deve incluir a compreensão e a valorização da diversidade cultural e social presente nas escolas. No Espírito Santo, nossas salas de aula são um reflexo da rica diversidade de nossa população, que inclui comunidades indígenas, quilombolas e imigrantes. A formação continuada pode ajudar os professores a desenvolver práticas pedagógicas que respeitem e integrem essa diversidade, promovendo um ambiente escolar onde todos os alunos se sintam vistos e valorizados.

Outro aspecto fundamental é o desenvolvimento de competências socioemocionais nos professores. A inclusão não se resume a adaptações físicas ou curriculares; ela envolve, sobretudo, a criação de um ambiente emocionalmente seguro e acolhedor. Professores bem preparados para lidar com questões como bullying, preconceito e desigualdade social estão mais aptos a criar uma cultura escolar inclusiva e empática. A formação continuada pode oferecer técnicas de mediação de conflitos, estratégias de comunicação assertiva e métodos para promover a empatia e o respeito entre os alunos.

A formação continuada também deve proporcionar oportunidades de troca de experiências e boas práticas entre os professores. Muitos dos desafios enfrentados em sala de aula são comuns a diversas escolas e regiões, e a troca de experiências pode ser uma fonte rica de soluções e inspiração. Programas de formação que incentivem a colaboração entre os educadores, como grupos de estudo, oficinas e seminários, podem fortalecer a comunidade escolar e fomentar a inovação pedagógica.

É importante lembrar que a formação continuada dos professores não deve ser vista como uma responsabilidade exclusiva dos educadores. As políticas públicas têm um papel fundamental em garantir que essas oportunidades de formação sejam acessíveis, relevantes e de alta qualidade. Investimentos em programas de formação continuada, parcerias com universidades e centros de pesquisa e o desenvolvimento de materiais didáticos específicos são essenciais para que os professores possam se atualizar e se capacitar continuamente.

No entanto, é preciso ser crítico e realista em relação ao cenário atual. Muitos programas de formação continuada ainda são inadequados, superficiais ou desconectados das reais necessidades dos professores e das escolas. É frustrante ver que, muitas vezes, a formação é tratada como uma formalidade burocrática, sem o devido suporte e valorização. A falta de tempo, recursos e apoio institucional também são obstáculos significativos que precisam ser superados para que a formação continuada seja realmente efetiva.

Como professor de filosofia, acredito que a educação deve ser uma prática libertadora e transformadora. Para que isso aconteça, precisamos de professores bem preparados, motivados e apoiados. A formação continuada é uma ferramenta poderosa para alcançar essa meta, mas ela deve ser implementada com seriedade, compromisso e uma visão clara de inclusão e equidade.

Não podemos nos contentar com medidas paliativas ou superficiais. Precisamos de uma abordagem profunda e abrangente que realmente capacite os professores a enfrentarem os desafios da inclusão com competência e confiança. Somente assim poderemos construir uma educação pública que seja, de fato, inclusiva, justa e transformadora, permitindo que todos os nossos alunos alcancem seu pleno potencial e contribuam para uma sociedade mais equitativa e solidária.

** Eduardo Machado é filósofo e professor especialista de Filosofia, licenciado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

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