Filosofia e a coragem de escolher
A ansiedade que surge nesses momentos é natural. Ela reflete o medo de errar, de desapontar, de escolher o caminho errado
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em 02 de jan de 2025, às 16h49
Por Eduardo Machado
A vida humana é feita de escolhas. Desde os pequenos dilemas do cotidiano até as decisões que transformam nossa trajetória, estamos constantemente diante de bifurcações que nos convidam a decidir quem somos e quem queremos ser. Nessas horas, a ansiedade costuma nos visitar, como se o peso das possibilidades fosse grande demais para carregar. Diante dessa inquietação, a filosofia pode nos oferecer não apenas consolo, mas também ferramentas para pensar e agir com mais clareza e coragem.
Fazer escolhas é um ato de liberdade, mas também de responsabilidade. Sartre, em sua filosofia existencialista, nos lembra que “estamos condenados a ser livres”. Não há como escapar das decisões, e mesmo a inação é, por si só, uma escolha. Essa liberdade absoluta pode ser assustadora, pois carrega consigo a responsabilidade pelas consequências de nossos atos. No entanto, ela também é libertadora, porque nos coloca como protagonistas de nossa própria história.
A ansiedade que surge nesses momentos é natural. Ela reflete o medo de errar, de desapontar, de escolher o caminho errado. É importante acolher esse sentimento sem deixá-lo nos paralisar. Aqui, a filosofia estoica nos ensina a distinguir entre o que está sob nosso controle e o que não está. Podemos refletir, planejar e agir, mas o resultado final, muitas vezes, escapa às nossas mãos. Aceitar essa incerteza é um passo fundamental para aliviar o peso da decisão.
No entanto, coragem não é a ausência de medo, mas a capacidade de agir apesar dele. Aristóteles, em sua ética, descreve a coragem como a virtude que se encontra entre a covardia e a temeridade. Ser corajoso não é ignorar os riscos ou agir de forma imprudente, mas sim ponderar os caminhos e, ainda assim, seguir adiante, movido pela convicção de que a ação é necessária.
Mas como decidir quando estamos tomados pela dúvida? A filosofia nos convida a fazer perguntas essenciais: “O que realmente importa para mim?”, “Como esta escolha está alinhada com meus valores e sonhos?”, “Estou escolhendo por mim ou pela expectativa de outros?”. Essas questões ajudam a trazer clareza em meio ao turbilhão de pensamentos.
Outro ponto importante é aceitar que nem sempre há uma escolha perfeita. Muitas vezes, estamos diante de caminhos igualmente válidos, mas com perdas e ganhos diferentes. Aqui, é útil lembrar o pensamento de Kierkegaard, que dizia que “escolher é perder”. Qualquer decisão implica abrir mão de algo, e aprender a lidar com essas renúncias é parte do amadurecimento.
No contexto escolar, como professores, também somos chamados a orientar os estudantes em momentos cruciais de escolha. Muitos deles enfrentam dúvidas sobre qual profissão seguir, quais sonhos perseguir ou como lidar com as pressões externas. É fundamental que sejamos facilitadores desse processo, criando um espaço seguro para que reflitam, questionem e explorem suas possibilidades.
Por outro lado, devemos evitar impor nossos valores ou tentar decidir por eles. Cada indivíduo tem o direito de construir sua própria jornada. Nosso papel não é fornecer respostas, mas ajudá-los a encontrar suas próprias, incentivando a autonomia e o pensamento crítico.
Precisamos, também, ser honestos sobre o fato de que a vida é imprevisível e que, mesmo com as melhores escolhas, nem tudo sairá como planejado. Preparar os estudantes para lidar com as consequências, para aprender com os erros e para se adaptarem às mudanças é tão importante quanto ajudá-los a decidir.
A coragem para tomar decisões transformadoras está, em última análise, conectada com o autoconhecimento. Sócrates nos ensinou que a vida examinada é a única que vale a pena ser vivida. Quanto mais conhecemos nossos valores, desejos e limites, mais seguros estaremos para escolher. Esse processo exige tempo, paciência e disposição para olhar para dentro de nós mesmos — algo que, infelizmente, a cultura da pressa muitas vezes nos impede de fazer.
Por isso, é importante valorizar os momentos de pausa e reflexão. Meditar, escrever, conversar com pessoas de confiança ou simplesmente permitir-se pensar sem pressa são formas de criar clareza mental. Esses instantes de introspecção podem ser os mais reveladores em tempos de escolha.
No final, escolher é um ato de coragem e esperança. É acreditar que, mesmo diante da incerteza, vale a pena arriscar. Que possamos, então, enfrentar nossas decisões com serenidade, lembrando que cada escolha, certa ou errada, nos ensina algo sobre quem somos e quem queremos ser.
E que, como educadores, possamos inspirar nossos estudantes a terem confiança em si mesmos, mostrando que o verdadeiro valor de uma escolha está menos em seu resultado e mais no aprendizado que ela proporciona. Porque, no fundo, viver é isso: uma sequência de escolhas que nos moldam e nos fazem crescer, mais ainda as dolorosas.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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