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Filosofia, vida e a valorização da mulher

O mês de outubro traz consigo um importante convite à reflexão e ao cuidado: o Outubro Rosa, movimento que busca a conscientização

5 mins de leitura

em 02 de out de 2024, às 08h53

Campanha é voltada para o diagnóstico precoce e prevenção do câncer de mama.
Foto: Reprodução/Web
Campanha é voltada para o diagnóstico precoce e prevenção do câncer de mama. Foto: Reprodução/Web

Por Eduardo Machado

O mês de outubro traz consigo um importante convite à reflexão e ao cuidado: o Outubro Rosa, movimento que busca a conscientização sobre a prevenção do câncer de mama. Como professor de filosofia em uma escola pública estadual, acredito que essa campanha vai além da prevenção médica e nos oferece a oportunidade de pensarmos filosoficamente sobre o valor da vida e a importância da mulher na sociedade. A filosofia, como disciplina que investiga os grandes temas da existência, pode nos ajudar a enxergar o Outubro Rosa sob uma ótica mais ampla e profunda, focada não apenas no corpo físico, mas também no reconhecimento e valorização da mulher em todas as suas dimensões.

Desde o início da filosofia, questões sobre a vida, a morte e o cuidado de si foram centrais para muitos pensadores. Sócrates nos instigava a pensar sobre o que torna a vida digna de ser vivida. E se a dignidade está no viver bem, cuidar de si e do corpo torna-se um ato de resistência e de valorização da vida. Em tempos de Outubro Rosa, essa reflexão ganha ainda mais força: falar sobre a saúde da mulher é, antes de tudo, reconhecer o valor de suas vidas e a importância de garantir que elas sejam cuidadas, ouvidas e respeitadas.

A luta contra o câncer de mama, assim como outras lutas femininas ao longo da história, nos lembra da desigualdade de acesso ao cuidado, ao respeito e à valorização plena da mulher. A filosofia pode nos ajudar a entender como, ao longo dos séculos, as mulheres foram marginalizadas e como, hoje, é fundamental reverter essa lógica. Simone de Beauvoir, uma das maiores filósofas do século XX, nos alertou sobre a construção social da mulher como “o outro”, relegando-a a uma posição de inferioridade e invisibilidade. O Outubro Rosa nos desafia a reconhecer e combater essa invisibilidade, trazendo à tona a importância da saúde feminina como um direito fundamental.

Além de um chamado para o autocuidado e a prevenção, o Outubro Rosa é também um momento de celebração da força, resiliência e importância da mulher. Pensar a filosofia a partir da valorização da vida envolve, necessariamente, pensar o papel da mulher na sociedade e no espaço que ela ocupa. Autoras como Angela Davis e Djamila Ribeiro, em suas críticas ao racismo e ao sexismo, destacam a importância de darmos voz e visibilidade às mulheres, especialmente as mais vulnerabilizadas. O câncer de mama, como uma doença que atinge principalmente as mulheres, é um ponto de partida para refletirmos sobre como, muitas vezes, as mulheres são deixadas de lado, seja no acesso à saúde, seja no reconhecimento pleno de suas subjetividades.

A filosofia do cuidado, tão bem articulada por autores como Michel Foucault e Carol Gilligan, nos ensina que cuidar de si não é um ato egoísta, mas uma responsabilidade ética. O cuidado com o corpo, com a saúde, é um ato de amor próprio e, ao mesmo tempo, de resistência em uma sociedade que nem sempre oferece as condições adequadas para que as mulheres cuidem de si mesmas. No contexto do Outubro Rosa, falar de prevenção é também falar sobre o direito ao acesso a exames, tratamentos e informação, e sobre como garantir que as mulheres, em todas as suas diversidades, tenham a oportunidade de viver de forma plena e digna.

Outro ponto importante que o Outubro Rosa nos leva a refletir é sobre o apoio coletivo. O câncer de mama não é uma experiência que deve ser enfrentada sozinha. Aqui, a filosofia nos lembra do valor da comunidade, do cuidado mútuo e da solidariedade. Aristóteles dizia que somos animais sociais e que a vida em comunidade é fundamental para o nosso bem-estar. Assim, quando falamos de Outubro Rosa, estamos também falando sobre como podemos, como sociedade, criar redes de apoio que envolvam cuidado, amor e compreensão para as mulheres que passam por essa difícil jornada. Isso inclui desde o suporte emocional até a garantia de políticas públicas de saúde eficazes e acessíveis.

Em sala de aula, discutir o Outubro Rosa com os estudantes é uma forma de promover o respeito e a valorização da mulher, ajudando a construir uma cultura de prevenção e cuidado. A filosofia pode ajudar os jovens a entenderem que o corpo é uma parte importante de quem somos, e que cuidar dele é também um ato de respeito à própria existência. Além disso, é uma oportunidade de discutir o papel da mulher na sociedade, quebrar estereótipos e preconceitos, e ensinar sobre a importância da igualdade de gênero e do respeito às diferenças.

O Outubro Rosa, portanto, vai muito além de uma campanha de saúde. Ele é um convite a pensarmos sobre a vida, a dignidade e o cuidado, e sobre como, ao valorizarmos a mulher e garantirmos o seu direito à saúde e ao bem-estar, estamos promovendo uma sociedade mais justa e humana. A filosofia nos ensina que a vida é um bem inestimável, e que devemos lutar para preservá-la em todas as suas formas. Para as mulheres, essa luta envolve o direito ao cuidado integral — físico, emocional e social — e o reconhecimento de sua importância na construção de um mundo melhor.

Neste Outubro Rosa, que possamos, como professores e cidadãos, lembrar que o cuidado com a vida passa também pelo cuidado com o outro, e que valorizar a mulher é valorizar a humanidade. O ato de cuidar, seja de nós mesmos ou dos outros, é um gesto filosófico profundo, que nos aproxima da essência do que é viver bem. E viver bem significa, acima de tudo, viver com dignidade, respeito e amor próprio. Que essa reflexão nos acompanhe não apenas neste mês, mas ao longo de todo o ano.

** Eduardo Machado é filósofo e professor especialista de Filosofia, licenciado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

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