Irmã Otília: o Evangelho vivo!

Não foram apenas 91 anos de vida — foram 91 anos de entrega serena a Deus e ao próximo, especialmente aos mais frágeis, os doentes

3 mins de leitura

em 29 de maio de 2025, às 11h15

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Por Dom Luiz Fernando Lisboa

Na manhã da última quarta-feira (28), com o coração apertado, mas profundamente agradecido, acompanhamos o sepultamento, a entrega de Irmã Maria Joana Otília à eternidade. Ela partiu como viveu: em silêncio, com leveza e dignidade. Não foram apenas 91 anos de vida — foram 91 anos de entrega serena a Deus e ao próximo, especialmente aos mais frágeis, os doentes.

As palavras do Evangelho de Mateus 25,36:  “Estive doente, e fostes visitar-me…”, ganham carne e verdade na vida de Irmã Otília. Ao longo de décadas, seus passos silenciosos ecoaram pelos corredores da Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro de Itapemirim, como os de uma peregrina da compaixão. Ela não fazia visitas. Ela fazia presença. Uma presença discreta, mas transformadora — feita de um olhar que confortava, uma palavra que aquecia, um sorriso que devolvia esperança.

Irmã Otília não precisava de holofotes. Sua vida foi marcada pela constância, não pela busca de reconhecimento. Em um mundo que frequentemente valoriza o ruído e a performance, ela escolheu a mansidão e a fidelidade. Era fiel ao Evangelho nas coisas pequenas,  nas horas longas, nos gestos simples. E ali, no cotidiano do serviço, ela revelou a profundidade de uma fé encarnada, madura, humilde.

Sua missão entre os doentes não era um “trabalho”. Era um sacramento vivido. Um ministério silencioso em que cada quarto visitado era um altar, e cada doente, o próprio Cristo crucificado, à espera de consolo. Irmã Otília foi discípula de Jesus, mas também foi sua embaixadora. Onde ela chegava, algo mudava: o peso da dor se tornava mais leve, o medo cedia espaço à paz.

Hoje, a Diocese se curva em oração, comovida e grata. Perdemos uma presença. Ganhamos um testemunho. Sua ausência nos desafia: quem continuará levando o consolo de Deus aos que sofrem? Quem responderá com generosidade ao chamado de Jesus no rosto dos doentes?

Irmã Otília viveu o Evangelho sem barulho, mas com força. Morreu em silêncio, mas deixou um grito: o grito do amor que se fez serviço. Que sua memória nos inspire a viver a fé não como discurso, mas como entrega. Não como teoria, mas como presença. E que nunca nos esqueçamos: quando visitamos um doente, estamos visitando o próprio Senhor.

Descanse em paz, irmã nossa, descanse em paz nossa santinha. Agora é o Cristo quem te visita — e Ele te reconhece!

** Luiz Fernando Lisboa C.P, é arcebispo-bispo da Igreja Católica, na Diocese de Cachoeiro de Itapemirim/ES. O religioso da Congregação da Paixão (Passionista), esteve por quase 20 anos em Pemba, Moçambique.

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

Receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro de tudo! Basta clicar aqui