MEU NOME NO CARTAZ
MEU NOME NO CARTAZ traz uma conversa emocionante entre as deidades e o Diabo que nos leva a refletir: Quem é Jesus?
3 mins de leitura
em 08 de out de 2024, às 09h33
Por Ricardo Lemos
A porta da sala celestial de reuniões abriu-se com deliberado estrépito, como por quem faz questão de demonstrar sua irritação.
Era Lúcifer, botando fogo e enxofre pelas ventas.
À volta da mesa comprida estavam Deus, em uma das cabeceiras, Jesus, Moisés, Maomé, Gabriel, Miguel e vários outros “éis” da falange divina, Gaia, Maria…
Jesus, ao perceber a entrada nada discreta e pacífica de Lúcifer, abre convidativo os braços e um sorriso:
– Entre, meu irmão. Seja bem vindo!
Ao ouvir “irmão”, todos, ou quase, experimentaram um mal dissimulado desconforto, alguns até olhando para Jesus com ar de censura.
É claro que ele percebeu:
– Meu, não! Nosso! Né, Pai?!
Lúcifer, que não estava para salamaleques, retrucou com sarcasmo:
– E o quê?! Junte-se aos bons?
Jesus, sempre muito espirituoso, pacificador:
– Aos bons, não; ao bom, visto que bom é apenas o Pai, que está nos Céus. Mas o que te aflige, meu irmão?
E Lúcifer então desabafou; botou tudo pra fora.
Começou com os 450 sacerdotes que o profeta Elias matou, tingindo de vermelho o rio.
Mais os 85 de Saul.
O próprio Jesus, que ali se encontrava, era testemunha viva, já que ressuscitara; e, pior ainda: VÍTIMA.
As Cruzadas, a Inquisição, povos inteiros dizimados ou escravizados.
Escravizados E dizimados.
E continuou desfiando com visível descontentamento um infindável rosário de atrocidades…
Pausa dramática.
Naquele instante, todos ao redor da mesa ouviam boquiabertos e estupefatos. Ninguém estava entendendo absolutamente nada; se não era o próprio diabo, ali, a condenar morticínios, escândalos, verdadeiras tragédias humanas.
– E todas elas EM NOME DO SENHOR! – fim dramático da pausa dramática.
Todos suspiraram.
Ou voltaram a respirar.
Jesus, o mais diplomático, ponderou:
– Você tem razão, meu irmão. Há milênios que vimos tentando fazer cessar esses absurdos…
O diabo interrompeu abruptamente:
– Alto lá!
Cessar vírgula! Deus me livre. Graças a isso tudo, minha casa está sempre cheia. Volta e meia eu tenho que mandar fazer mais um puxadinho. Os negócios estão indo de vento em popa, graças a Deus!
– Qual é então o motivo da sua indignação?
– Reconhecimento.
Meu nome no cartaz, em letras garrafais.
Afinal, eu fico com todo o trabalho sujo.
E quem leva a fama é ELE.
** Ricardo Lemos é escritor, poeta, músico, compositor; especialista em generalidades, ativista da causa animal e humana e atua há 30 anos no comércio exterior de rochas ornamentais.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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