Quando o calendário se torna espelho
As semanas aceleram, as luzes se multiplicam e um movimento silencioso reorganiza sentimentos que ficaram guardados.

Por Pe. José Carlos Ferreira da Silva
Receba as principais notícias no seu WhatsApp! clique aquiNo fim do ano, o calendário deixa de ser apenas contagem e vira espelho. As semanas aceleram, as luzes se multiplicam e um movimento silencioso reorganiza sentimentos que ficaram guardados. O tempo parece pedir que cada emoção encontre seu lugar.
Lembranças aproveitam essa brecha. Algumas chegam leves, cheias de promessa. Outras carregam ausências que ganham nitidez em dezembro. As cadeiras vazias ficam mais evidentes, como se pedissem reconhecimento antes que o ciclo se feche. Não é exagero; é apenas a memória lembrando que vínculos persistem, mesmo quando pessoas não permanecem.
Entre compras e convites, surge a expectativa coletiva de alegria. As cenas sugerem euforia, fotos perfeitas, entusiasmo constante. A realidade nem sempre acompanha. Muitos atravessam o mês com cuidado, tentando não se perder entre ruídos e luzes. A pressão por felicidade cria um silêncio interno difícil de explicar, onde a solidão costuma se esconder.
O futuro aparece dividido entre brilho e incerteza. A virada promete recomeços, mas também desperta perguntas que ainda não têm resposta. Esperança e ansiedade caminham lado a lado, num ritmo que dezembro conhece bem.
Ainda assim, há algo de reparador nesse período. O fim do ano funciona como um pequeno ritual, mesmo sem intenção. Pode ser uma lista rápida, um minuto de pausa, um abraço demorado ou só a coragem de olhar para o que passou. Qualquer gesto ajuda o coração a se reorganizar.
Quando o calendário vira, nada muda de forma brusca. Mas um ajuste acontece: um cuidado adiado se torna possível, uma gentileza encontra espaço, um pensamento inquieto ganha descanso. No fim do ano, o mundo segue igual. O olhar é que muda — e, com ele, a chance de recomeçar.
*** Pe. José Carlos Ferreira da Silva é autor do livro Feridas Invisíveis: a realidade do sofrimento psíquico em padres e pastores decorrente da prática pastoral – Editora Dialética. É Mestre em Ciências da Religião, Jornalista e Psicólogo. Atualmente é Vigário Episcopal para Comunicação da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, Pároco da Paróquia Nosso Senhor dos Passos, bairro Independência, Cachoeiro de Itapemirim. Membro das Academia Cachoeirense de Letras.
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