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Política

Vítimas de ataque em Aracruz cobram reparação

Tema foi discutido em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos pelos 6 meses dos atentados a duas escolas do município

Por Redação

6 mins de leitura

em 26 de maio de 2023, às 15h30

Foto: Davi Abarca | Ales

O professor e  doutor em Educação Daniel Tojeira Cara participou da audiência pública realizada pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), na noite de quinta (25), para debater a situação da segurança nas escolas capixabas seis meses após o massacre em duas unidades de ensino de Aracruz

“O Brasil é o segundo país do mundo em casos envolvendo massacres e ataques terroristas em escolas. Desde 2022 houve o registro de 36 ocorrências visando violentar ou constranger o ambiente de ensino, o que resultou na morte de 81 pessoas. Os Estados Unidos lideram o número de casos”, explica Daniel Tojeira Cara, que coordena, no país, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, além de representar o Ministério da Educação no grupo de trabalho criado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, para o enfrentamento de massacres em estabelecimentos de ensino. 

Em 25 de novembro de 2022, um adolescente de 16 anos invadiu uma escola privada e outra pública, matando três professoras e uma estudante. O ataque deixou feridas outras 10 pessoas, algumas delas convivendo com sequelas graves após internação hospitalar. 

Ações integradas 

O professor considerou positivas as ações articuladas por ministérios e órgãos estaduais, citando que não houve mais casos desde abril passado, quando a estratégia foi colocada em prática oficialmente, logo após outro atentado a uma creche em Blumenau (SC), com a morte de quatro crianças. 

“Já conseguimos prevenir mais de 2 mil tentativas de ataques”, disse Daniel Cara, explicando que a estratégia de enfrentamento ao problema conta com a mobilização da Polícia Federal em conjunto com as polícias estaduais, a partir de informações levantadas mediante monitoramento da internet e denúncias anônimas. 

Sobre a segurança das escolas, o representante do Ministério da Educação destacou que o governo federal, por meio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, anunciou a liberação de R$ 3 bilhões, que estão sendo repassados diretamente aos estabelecimentos de ensino do país para adoção de medidas necessárias para evitar violência às escolas. 

Durante a sua exposição, Daniel Cara destacou o avanço de novos movimentos facistas e nazistas no mundo, pontuando que a violência nas escolas não depende apenas de medidas de segurança, mas de um esforço mundial para o resgate de valores humanitários. 

Indenizações

O defensor público do Espírito Santo Hugo Matias afirmou que a Defensoria Estadual tem atuado em Aracruz na assistência às vítimas do ataque de Aracruz, que lutam por reparações materiais e assistência relacionada à saúde física e mental. 

“Tivemos a oportunidade também de ingressar numa ação coletiva contra uma rede social por disseminar conteúdos de ódios na internet, o que é indispensável nos esforços para a prevenção de novos ataques”, disse Matias, que coordena o Núcleo dos Direitos Humanos e Cidadania da instituição. 

Wellington Banhos é um dos que lutam por reparações materiais e assistência na área da saúde. Ele perdeu a esposa Maria da Penha, que atuava como professora numa das escolas atingidas. 

Em vídeo gravado em casa para a audiência, ele apareceu sentado num sofá ao lado das filhas Isabela e Nicole (7 e 17 anos) e do filho Guilherme (11). Abalado, ele falou sobre a situação enfrentada pela família após a perda da esposa: “Desde que aconteceu, não retornei a trabalhar porque tenho de ficar com eles (os filhos); quando houver as tratativas sobre reparações, espero que tenhamos direito a alguma pensão”, afirmou, acrescentando que, desde o episódio, é acompanhado por psiquiatra e toma remédio para dormir. Os filhos estão sendo atendidos por psicólogos. 

Outra personagem que luta por reparação é a professora de língua portuguesa Priscila Queiroz, atingida por três tiros, sendo que um deles, conforme disse, “destruiu minha clavícula”. “Passados seis meses ainda convivo com muito sofrimento; estou passando por reabilitação física, mas a dor emocional é muito grande, já que tivemos perdas de colegas. Tenho tomado remédio para dormir, toda minha família está passando por muita dor emocional”, declarou. 

Priscila afirmou que os atingidos precisam de mais apoio, pois se sentem sozinhos, esperando por justiça e pelas devidas ações para reparar todos os afetados pelo massacre. 

Precisão

A deputada Iriny Lopes (PT) cobrou do grupo instituído pelo governo do Estado para enfrentar a escalada de violência nas escolas  para que sejam realizadas investigações “mais profundas” sobre o massacre de Aracruz. 

Ela lembrou que o adolescente autor dos disparos é filho de militar da PM capixaba e que a arma usada pertence à polícia. Além disso, analisou, o adolescente agiu com “precisão”, uma vez que conseguiu matar quatro pessoas e atingir várias outras, mesmo dispondo de poucos minutos para essas ações, ocorridas em locais diferentes, pois invadiu duas escolas. Para Iriny, tudo indica que o adolescente foi instruído por alguém para realizar o ataque e isso precisa ser esclarecido pelo grupo de trabalho instituído pelo governador Renato Casagrande. 

A presidente da Comissão dos Direitos Humanos, deputada Camila Valadão (Psol), proponente da audiência pública, disse que a realização do debate dá visibilidade sobre o massacre e mantem viva a cobrança da sociedade por justiça aos afetados e para a necessidade de ações efetivas do poder público para evitar novas tragédias. 

Ela destacou a importância da presença do professor Daniel Cara e do relato das ações integradas para o enfrentamento do fenômeno da violência às escolas no país;

“Não podemos abordar esse tema apenas pelo viés da segurança pública, é preciso ampliar o debate trazendo à luz outras nuanças que alimentam os discursos de ódio; essa audiência foi uma oportunidade também de prestarmos solidariedade aos atingidos pelo massacre, além de homenagearmos as vítimas”, concluiu. 

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