Em seis meses, 43 mulheres foram vítimas de feminicídio no Espírito Santo
Em 2022, Cachoeiro registrou quatro feminicídios. De janeiro a junho deste ano, um. O município de Itapemirim registrou dois assassinatos de mulheres no ano passado e, neste ano, um.
Agosto foi escolhido como o mês de conscientização contra a violência doméstica e, neste ano, a campanha tem como tema “Violência contra a mulher: ignorar faz de você cúmplice desse crime”. Abordar temas como violência física e verbal, tortura psicológica e violência financeira ou patrimonial ajuda a proteger mulheres que estejam em relacionamentos abusivos e que podem vir a ser vítimas de feminicídios no futuro.
De janeiro a junho de 2023, 43 mulheres foram vítimas de feminicídio no Espírito Santo. Segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp/ES), no ano passado, 91 mulheres foram vítimas de morte violenta, a maioria delas, assassinadas por companheiros ou ex-companheiros.
Na última quinta-feira (27), em Cachoeiro de Itapemirim, uma mulher de 35 anos foi baleada na cabeça pelo ex-marido, que após ser preso, confessou o crime. A mulher chegou a ficar hospitalizada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Misericórdia do município, mas recebeu alta no último sábado e já está em casa.
À PM, o homem confirmou que atirou com intenção de matar a ex-companheira porque, segundo ele, havia sido traído por ela. Versão que é investigada pela polícia e, mesmo que tenha ocorrido a suposta infidelidade, não justifica o crime.
De acordo com o Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cachoeiro de Itapemirim, em 2022, foram quatro tentativas de feminicídios em Cachoeiro. Neste ano, foram duas, incluindo o caso citado acima.
Antes de abordarmos outros dados, é preciso entender o que caracteriza esse tipo de crime. Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher em razão da condição do sexo feminino. Segundo a Justiça, o crime decorre, muitas vezes, de circunstâncias e contextos de violência doméstica e familiar.
Em 2022, o Sul do Espírito Santo registrou nove feminicídios. Já no primeiro semestre deste ano foram seis mulheres assassinadas. Em 2022, Cachoeiro registrou quatro feminicídios. De janeiro a junho deste ano, um. O município de Itapemirim registrou dois assassinatos de mulheres no ano passado e, neste ano, um.
As outras cidades que registraram feminicídios em 2022 foram Jerônimo Monteiro (1) e Piúma (2). Neste ano, além de Cachoeiro e Itapemirim, as cidades foram Castelo (1), Marataízes (1), Mimoso do Sul (1) e Piúma (1).
A titular da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) de Cachoeiro de Itapemirim, Edilma Oliveira, explica que esses casos estão relacionados ao machismo, condição em que o homem sente-se dono da vítima. Tirando dela o direito de permanecer ou não no relacionamento.
“Ainda vivemos em uma sociedade extremamente machista, onde alguns homens acham que são proprietários da mulher. Eles não aceitam o término de um relacionamento e, muito menos, uma traição durante o convívio amoroso. Por isso, agem com violência, agredindo suas companheiras, ameaçando, perseguindo e até mesmo tirando o direito de viver dessas mulheres.”, comenta.
De acordo com a delegada, é possível perceber sinais de agressividade e violência psicológica ainda nos primeiros meses de relacionamento.
“As mulheres precisam ficar atentas aos primeiros sinais de um relacionamento abusivo, embora seja difícil perceber quando se está envolvida emocionalmente. Sinais como ciúme excessivo, agressividade, xingamentos, possessividade, são comuns durante o relacionamento abusivo. Caso a mulher deixe esse comportamento do parceiro perdurar, pode chegar a uma violência física e, até mesmo, a um feminicídio.”, reforça.
Porque denunciar um agressor e evitar um possível feminicídio
Muitas mulheres ainda são vítimas de violência doméstica e não denunciam por medo do agressor. Mas, se a vítima não conseguir comunicar esse crime à polícia ou pedir que algum parente, vizinho, amigo comunique, a tendência é que as agressões se tornem ainda mais frequentes, podendo, inclusive, terminar em morte.
“Vítimas de violência doméstica precisam denunciar seus agressores, mesmo que não acreditem nas leis ou mesmo que tenham medo. Infelizmente, em muitos casos, não há a punição que esperamos. No entanto, a denúncia precisa ser feita por meio da Deam, com registro de ocorrência e pedido de medida protetiva. Se a violência estiver ocorrendo naquele momento, a mulher ou alguma testemunha deve ligar imediatamente para o 190. É necessário, também, que as vítimas de agressão façam os exames médicos necessários, compareçam ao Serviço Médico Legal quando encaminhadas pela polícia, para que seja possível comprovar as lesões nos autos do inquérito policial. E quando solicitadas, compareçam ao Ministério Público, para que o MP ofereça a denúncia, para, assim, conseguirmos punir com rigor esses agressores.”, finalizou Edilma.
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