Grupo Anônimos apresenta ensaio aberto de “A Metamorfose” em Cachoeiro
Processo de montagem do mais novo espetáculo do grupo recebe público em ensaio aberto em Cachoeiro de Itapemirim. A estreia está prevista para outubro
Entre os motivos de uma obra se tornar um clássico está sua atemporalidade. Mais de cem anos depois da primeira publicação do livro “A Metamorfose”, de Franz Kafka, as relações de opressão, descartabilidade e desumanização presentes no original permanecem sendo temas que atravessam a vida das pessoas, em muitos níveis, na sociedade atual. Esse foi um dos ganchos para a montagem do espetáculo “A Metamorfose”, do Grupo Anônimos de Teatro, que promove um Ensaio Aberto, com mostra de parte do trabalho. O evento acontece no próximo dia 16 de setembro, às 19h, no Centro Cultural Luz del Fuego, em Cachoeiro de Itapemirim, com entrada gratuita. A estreia da peça está prevista para outubro.
Com direção da bailarina Ivna Messina e dramaturgia de Fernando Marques, “A Metamorfose” traz o ator Luiz Carlos Cardoso em cena, acompanhado dos músicos Alessandra Biato e João de Paula Junior. Quem assina o figurino é Antonio Apolinário; e a luz, Daniel Boone. O ator, que já desenvolveu pesquisas anteriores sobre Kafka em experimentos cênicos e para o espetáculo “A Culpa” (2012), retorna à sala de ensaio para a montagem de um espetáculo sobre uma das obras mais conhecidas do autor austríaco.
“A gente conseguiu começar a experimentação do corpo e do texto em um processo anterior, que foi intitulado ‘Exercícios para uma Metamorfose’. Com isso feito, a gente voltou para a sala e continuou a pesquisa de forma mais fluida, com ensaios que iam para caminhos mais direcionados, para um texto que já tinha uma linha de fala”, explica Luiz.
O trabalho de adaptação do texto original tem sido um desafio para todos os integrantes do grupo e também para os convidados. “Estou descobrindo coisas novas no meu corpo; essa coisa do animal e do grotesco entra de uma forma muito interessante. A gente vai para lugares muito extracotidianos para falar daquilo que está acontecendo hoje com todo mundo”, pontua o ator.
Diretora-coreógrafa
O processo também marca a estreia da bailarina Ivna Messina na direção de um espetáculo de teatro. Ela conta que partiu de sua experiência com o gesto e o corpo, acrescida dos textos que o dramaturgo ia propondo (incialmente, como roteiros de ação), para chegar aos personagens e ao narrador da história, todos interpretados pelo mesmo ator.
“O começo do trabalho foi todo corporal, para identificar no Luiz características, gestos, modos de se mover que poderiam ser interessantes para a proposta da montagem. Depois, comecei a trabalhar imagens e células coreográficas a partir das ideias. Então, como uma coreografia, vou combinando as imagens, gestos e células, repetindo, ressignificando, enquanto Luiz vai se movendo junto às palavras. Brinco dizendo que estou ‘coreografando o texto’”, conta a diretora.
Da literatura para o palco
Quase dez anos depois de ter montado seu último solo, “Viajante”, dirigido e escrito por Fernando Marques, Luiz Carlos reencontra-se com o dramaturgo, que assina o texto de “A Metamorfose”. Assim como anteriormente – e como costumam trabalhar Ivna e Fernando no Grupo Z, do qual fazem parte –, o processo de escrita se deu simultaneamente ao trabalho na sala de ensaio, com uma prática afetando e modificando a outra.
Um dos desafios para Fernando foi adaptar o texto literário para o teatro, não tanto pelo trabalho de adaptação de um clássico, uma prática já desempenhada pelo dramaturgo em outras montagens, mas sim por julgar o texto difícil de ser transposto para a cena. O caminho encontrado passou por escolhas como o tipo de narrador – que, na peça, se manifesta mais diretamente sobre o que narra –, a composição dos personagens e seu peso na trama, entre outros pilares importantes para a costura dramatúrgica.
O recorte temático também se deu coletivamente. “Tem um aspecto de desumanização e de descartabilidade de quem não é mais produtivo, de quem não gera mais-valia, de quem, por algum motivo, é posto à margem no esquema de produção. Você não serve mais. E isso em muitos níveis, porque permeia a vida pessoal, afetiva, familiar, a subjetividade; não é algo que se resuma aos aspectos profissional, econômico ou qualquer outra coisa por aí. Esse foi um caminho que me interessou e interessou à equipe”, explica Fernando.
Este projeto é realizado com recursos do Funcultura através do edital 013/2021 da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo.
SERVIÇO – TEATRO
ENSAIO ABERTO DE “A METAMORFOSE” (Grupo Anônimos de Teatro)
Adaptação do livro “A Metamorfose”, de Franz Kafka
16 de setembro (sábado), às 19h
Centro Cultural Luz del Fuego – Rua Newton Prado, 26 – Ibitiquara, Cachoeiro
Classificação Livre
Entrada gratuita
SINOPSE
Um homem desperta de sonhos intranquilos metamorfoseado num inseto monstruoso. Assim era visto por sua família. Assim era visto pelo gerente do trabalho. Pela empregada, pelos inquilinos que ocupam sua casa, pelo mundo. Neste espetáculo – um solo –, conta-se a sua história; o corpo reage, a situação se instala: quem realmente se metamorfoseia enquanto o tempo passa, enquanto um novo indivíduo surge, quem se transforma com o passar do tempo? O inseto monstruoso no qual se tornou Gregor Samsa está em cena: ele é um homem.
FICHA TÉCNICA
Direção: Ivna Messina
Dramaturgia: Fernando Marques
Intérprete: Luiz Carlos Cardoso
Trilha sonora: Alessandra Biato e João de Paula Junior
Cenário e figurino: Antonio Apolinário
Iluminação: Daniel Boone
Identidade visual e fotografias: Farley José
Assessoria de imprensa: Patricia Galleto
Direção de vídeo: Diego Scarparo
Direção de produção: Luiz Carlos Cardoso
Produção – Cachoeiro: Amanda Malta
Realização: Grupo Anônimos de Teatro
www.grupoanonimosdeteatro.blogspot.com
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