Incertezas sobre o cenário econômico capixaba com a reforma tributária, cuja aprovação está em curso em Brasília, despertam preocupações dos parlamentares, governo e segmentos da área. O entendimento é que o turismo poderá ser explorado economicamente no sentido de minimizar a perda de arrecadação prevista. Esse foi o pano de fundo da audiência pública realizada nesta sexta-feira (24), no Plenário Dirceu Cardoso da Assembleia Legislativa do Espírito Santo.
A reunião da Comissão de Turismo foi conduzida pelo deputado João Coser (PT), que destacou a vocação turística do Espírito Santo e questionou o porquê de o estado não ser uma potência na área. “O turismo é uma ferramenta importante na transformação de economias e sociedades. Tem o poder de promover o desenvolvimento econômico e social com poucos impactos ambientais”, disse.
“Nossa intenção, ao realizar essa audiência pública, é discutir com o setor e com a sociedade como podemos contribuir para fazer do estado e de nossas cidades indutoras de destinos e como usar o turismo para potencializar nossa economia nesse contexto pós-reforma tributária”, explicou o parlamentar. Conforme apontou, falta um “olhar estratégico” para o segmento, que precisa diversificar suas atividades.
Coser citou as potencialidades e defendeu um calendário de eventos estadual para que o segmento não dependa só do turismo nas montanhas durante o inverno e das praias no verão. “A gente precisa investir mais na divulgação do nosso estado lá fora”, avaliou o petista, que citou gargalos antigos como a duplicação da BR-101 e da BR-260, a ausência de um grande centro de eventos e de aeroportos regionais.
Presidente do Conselho Estadual de Turismo, José Olavo Medici Macedo lembrou que o turismo é a indústria mais limpa do mundo e a mais democrática quando se fala de oportunidade de emprego e renda. “Rocha um dia vai embora, petróleo um dia vai embora. Mas o turismo não”, frisou. Na opinião dele, a reforma tributária, que privilegia estados com maior consumo, só reforça esse entendimento.
O maior desafio no ES, segundo falou, são as dificuldades de empreender por conta do baixo consumo em termos de volume, embora o consumo per capita seja alto. “A única forma de crescermos nos próximos cinco anos”, projetou, “é com o turismo, trazendo gente para cá, consumir aqui no nosso estado”, completou.
Para o secretário de Estado de Turismo, Weverson Meireles, o foco do poder público e dos representantes é transformar o setor em uma matriz econômica que possa não só gerar, mas também distribuir renda. “Hoje quando nós falamos do turismo capixaba, nós estamos falando de 150 mil capixabas empregados nas atividades características do turismo. Nós estamos falando de praticamente 7% do PIB capixaba”, revelou.
Como uma das ações do governo para estimular a área, Weverson disse que há cerca de 10 dias foi assinado um contrato da pasta estadual com a Universidade de São Paulo (USP) para que a instituição de ensino elabore um estudo de viabilidade e uma simulação de manobrabilidade dos cruzeiros marítimos na costa capixaba. Ele também destacou o trabalho de qualificação de profissionais que atuam no setor.
Números
O diretor do Booking, site de reserva de acomodações, Renan Melo Dell Aglio, apresentou tendências de demandas para 2024 e dados consolidados deste ano. A pesquisa feita com 27 mil viajantes de 33 países mostrou que, no verão de 2023, houve um aumento de buscas que ultrapassam os 35% e, sobre o custo-benefício, 63% pretendem aproveitar ofertas e viagens em momentos estratégicos.
Além disso, quase 70% das pesquisas antecipadas foram para estadias internacionais; mais de 50% dessas buscas antecipadas foram realizadas por casais; e mais da metade das pesquisas para o verão no site compreendem estadia de uma a quatro diárias, consideradas mais curtas.
Sobre as projeções, Renan mostrou que 70% dos viajantes vão se deslocar para se refrescar e 56% falam que as mudanças climáticas afetarão os deslocamentos. Além disso, 50% do público não quer planos definidos para viagens. Entre outras informações, destacou que 74% pretendem experimentar a culinária nativa, o que seria uma vantagem do Espírito Santo. “Moqueca capixaba é favorita de qualquer um que experimente.”
Eventos
O presidente da União Brasileira dos Conventions Bureaux (Unedestinos), Toni Sando, realçou a interface do turismo com a atividade econômica, sobretudo na realização de eventos. “Não existe turismo, existe visitante, existe dinheiro que está chegando de fora que alguém está trazendo para fazer o que o destino prospere. O evento gera riqueza”, argumentou. Como exemplo, citou que o tradicional Carnaval Carioca movimenta R$ 3 bilhões.
O convidado defendeu união de esforços para que os projetos sejam implantados. “Não existe salvador da pátria. Não adianta esperar que os parlamentares resolvam o problema. Não adianta esperar que o Executivo resolva o problema. Não adianta esperar que o empresário isoladamente resolva o problema”, considerou. Para ele, é importante que o setor público promova a infraestrutura para que o setor privado possa investir.
“A gente não está falando nada de turismo. A gente está falando que a vinda de evento, a criação de evento gera visitantes que consomem produtos de vários setores econômicos em que todos se beneficiam”, disse o presidente do órgão que promove o fomento e apoio na realização de eventos no estado paulista.
O secretário-executivo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-ES), José Antônio Buffon, também destacou a aliança entre setor público e privado para promover o turismo. “O Espírito Santo não vai viver só de turismo, mas o turismo pode contribuir enormemente para o nosso PIB, porque nós temos o potencial, temos aqui os atrativos, nós temos competência empresarial para poder oferecer isso. Nós temos uma infraestrutura suficientemente adequada para darmos um salto”, observou.
Participaram da audiência pública a deputada Iriny Lopes (PT); o secretário de Turismo da Serra, Felipe Lemos; o diretor-presidente do Espírito Santo Convention & Visitors Bureau, Paulo Renato Fonseca Junior; e o diretor da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes), Hugo Toffoli. Ao final, o microfone foi aberto aos participantes.
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