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Especial

Muniz Freire: ex-combatente deixa diário com relatos da 2ª Guerra Mundial

Entre perseguições, ataques de bombas, fome e medo, o soldado capixaba escrevia sobre os dias na 2ª Guerra Mundial

Por Larissa Chaves

5 mins de leitura

em 24 de fev de 2024, às 11h00

Foto: Acervo da Família

Grimaldo Pereira Chaves nasceu no interior de Muniz Freire, no Sul do Espírito Santo. Criado na roça, aos 23 anos o jovem recebeu a maior missão da sua vida: ir para a linha de frente da 2ª Guerra Mundial. Ele, que só estudou até a 4ª série, escreveu em 35 páginas os detalhes do pior conflito da história da humanidade. Logo que chegou a Itália, em 1944, ele começou a registrar o dia a dia em meio às batalhas.

O soldado narrou em seu diário os horrores praticados pelos alemães. Aliás, ele diz que não só os combatentes sofriam ataques, mas também as crianças, idosos e mulheres. De acordo com os relatos de Grimaldo, os italianos pediam ajuda aos brasileiros e viam neles uma esperança de melhoria daquele momento terrível.

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“…também os alemães diziam para o povo italiano que os brasileiros comiam crianças, para que este povo mais nos odiassem. Mas logo eles viram que nós não éramos o que eles diziam…” –  relato descrito na página 15 do diário, que está guardado com a família em Muniz Freire, desde o falecimento de Grimaldo Pereira Chaves em 2012.

O diário pode ser acessado na íntegra através do link: https://drive.google.com/file/d/1lisGwANeeCcZ86QDgZ7mSvlxQyVuGKys/view?usp=sharing

Documento histórico da 2ª Guerra Mundial

Pensar no cenário em que o diário foi escrito é quase entrar dentro de um filme. Todavia, não é ficção. Esta foi a história vivida por muitos brasileiros que, 80 anos atrás, foram em busca da liberdade e da democracia, que hoje podemos desfrutar.

Apesar das letras confusas em alguns momentos e de palavras usuais da época, o diário pode ser considerado um documento histórico, já que narra com detalhes os momentos vividos por Grimaldo e tantos outros brasileiros que estiveram na 2ª Guerra Mundial. 

“…neste dia eu lembrei de todos os conhecidos e de todos os brasileiros mais. Lembrei que era preciso este sacrifício para que amanhã todos nós sejamos livres e donos de sua própria pessoa. Para que as crianças e as famílias não sejam escravizadas por estes bárbaros alemães…”, trecho do diário de Grimaldo, descrito na página 15 do diário.

O retorno ao Brasil

“…continuação, dia 5 de maio – hoje todas as nossas baterias formaram para o hasteamento da bandeira brasileira. Estou podendo dizer que, na Itália, a guerra está terminada realmente…”, diz outro relato publicado na página 32 do diário.

Assim como conta no diário, em maio de 1945, os soldados começavam a se preparar para voltar ao Brasil. Contudo, apenas os sobreviventes. Grimaldo mesmo viu vários amigos sendo mortos ao seu lado e, em alguns momentos, escapou por pouco.

Depois de tantas lutas, a expectativa para chegar em solo brasileiro era enorme. Todavia a longa viagem de navio até o Rio de Janeiro também era temida. A ansiedade de como seria a viagem e também a grande saudade que sentia dos seus, foram as últimas palavras escritas no caderno.

Próximos capítulos

As novas páginas desta história, escrevo agora com minhas palavras. Sou neta deste homem que admiro eternamente e que tive o privilégio de conviver por mais de 15 anos. 

No mesmo ano que retornou ao Brasil, conheceu a minha avó, com quem se casou. Aliás, costumo dizer que a única coisa que ele amava mais do que o seu país, era a sua esposa. Um marido calmo, trabalhador e honesto. Com as economias que ele fez durante a guerra, chegou e conseguiu comprar seu primeiro pedaço de terra. Quando digo economia, é realmente no total sentido da palavra. 

Minha avó conta que os soldados ganhavam uma quantia de dinheiro para “necessidades”. Enquanto uns gastavam com bebidas, cigarros e mulheres, ele juntava os trocados para trazer para o Brasil. Os dois criaram seis filhos, muitos netos e meu avô seguiu aqui Muniz Freire por toda a vida. Na cidade, recebeu algumas homenagens e tinha muito prazer em contar cada detalhe do que viveu na Guerra para quem quisesse ouvir. 

Com o passar dos anos, a saúde ficou debilitada e ele faleceu no ano de 2012. Poderia citar inúmeros ensinamentos de fé, de carinho e de amor, mas o que ele mais se orgulhava era da sua coragem. Apesar de ter participado da guerra mais sangrenta da história, ele sempre foi antiviolência e entendeu sua participação no conflito como uma contribuição para a liberdade das pessoas e pelo direito à democracia. 

“…realmente lutamos e sofremos, passamos amarguras, mas também elevamos o nome do Brasil. Nós viemos para mostrar que os brasileiros não são selvagens como eles aqui na Europa pensavam”, escreveu meu sábio avô na página 32 de seu diário.

O Brasil na 2ª Guerra Mundial

  • Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil, sob o regime autoritário de Getúlio Vargas, inicialmente adotou uma postura neutra, priorizando seus interesses econômicos.
  • A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial só ocorreu com o afundamento de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães.
  • O Brasil, ao declarar guerra em 1942, uniu-se às nações aliadas, opondo-se às forças do Eixo, lideradas por Alemanha, Itália e Japão.
  • A participação brasileira na Segunda Guerra gerou impactos econômicos ao intensificar relações comerciais com os Aliados, especialmente os EUA, que investiram na infraestrutura brasileira. Internamente, fortaleceu o sentimento nacionalista.
  • A Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviada ao teatro de operações italiano, composta por cerca de 25 mil soldados, destacou-se pela bravura em batalhas como Monte Castello e Monte Belvedere, contribuindo significativamente para a reputação brasileira no cenário internacional.

Fonte: historiadomundo.com.br

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