Comissão discute políticas públicas para manter idosos ativos no ES
A geriatra Yara Nippes alertou os deputados da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales)

“A população idosa é a que mais aumenta no Brasil e no mundo. Em 2050, 22% de toda a população mundial terá acima de 60 anos”. Com essa declaração a geriatra Yara Nippes alertou os deputados da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) sobre a importância da elaboração de políticas públicas direcionadas a esse grupo. Ela foi uma das convidadas da reunião promovida nesta terça-feira (14).
Diretora de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia no estado (SBGG-ES), a médica falou do trabalho da entidade, pautado na conscientização dos profissionais de saúde e da comunidade sobre a importância do envelhecimento ativo e qualidade de vida.
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“Para que tenhamos uma população que se mantenha atuante, precisamos aprender a ouvi-los nas suas demandas, ouvir também seus familiares”, salientou. A profissional defendeu a participação dessa parcela cada vez maior da população na elaboração de políticas públicas, incluindo ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.
Mas não só isso. Tendo como pano de fundo uma “Cidade Amiga do Idoso”, Yara ressaltou que a Sociedade de Geriatria defende o atendimento de demandas como a adaptação de ambientes às necessidades das pessoas acima dos 60 anos a fim de garantir mais mobilidade, independência e autonomia.
Isso inclui equipamentos como espaços comuns limpos, ambientes verdes, praças para locais de atividade física e relaxamento, calçadas bem planejadas, moradias e transporte adaptadas, acesso à tecnologia e informação de qualidade, além de presença na participação social e políticas de combate ao etarismo.
Cuidadores
A geriatra contou que uma das preocupações da entidade gira em torno de políticas que contemplem idosos com doenças neurodegenerativas que dependam de cuidadores, fato reforçado por Callegari (PL). Sobre esse gargalo, o deputado contou que, se não fossem os seus tios, não haveria ninguém para cuidar do seu avô, que está acamado em casa.
“Não acha profissional, não acha cuidador”, desabafou o parlamentar. Na opinião de Callegari, o envelhecimento populacional somado à baixa taxa de fecundidade das brasileiras, menor do que em parte dos países europeus, torna o assunto mais complicado. “Nós não vamos ter mão de obra para tomar conta dos idosos”, projetou.
A geriatra confirmou que a SBGG-ES desenvolve ações no sentido de estimular a profissionalização do trabalho dos cuidadores. “Até dentro das faculdades já existem muitos assuntos e pautas a respeito do envelhecimento”, abordado em disciplinas da área da saúde e fora dela, como assistência social. Para ela, no entanto, há “muito mais a ser feito”.
Poucos profissionais
A presença de geriatras no sistema público de saúde é permeada de barreiras, o que dificulta a execução das políticas públicas, segundo o presidente da Comissão de Saúde, Dr. Bruno Resende (União) Ele usou como exemplo as longas consultas, que levam até mais de 1 hora e cuja remuneração no estado chega no máximo a R$ 60 em alguns municípios.
“Aí você vê a dificuldade de ter um profissional que faz uma consulta por hora na rede SUS. É claro que esse é um problema do sistema e o sistema tem que se adequar e resolver”. Na análise do parlamentar, até mesmo os convênios de planos de saúde devem enfrentar dificuldades com a contratação desses profissionais. Nesses casos, a remuneração chegaria a R$ 120, com todos os encargos.
“Boa parte dos colegas geriatras hoje atende no sistema privado e muitos deles até privado isolado. Isso é uma coisa para a gente poder pensar porque a política tem que ser criada e implementada depois”, considerou. Segundo Yara, hoje existem 101 geriatras especializados em gerontologia filiados à sociedade.
Público x particular
O deputado Hudson Leal (Republicanos) chamou atenção para as diferenças existentes entre os equipamentos e serviços de saúde ofertados nas redes pública e particular, inclusive no tocante à atuação preventiva das doenças. Nesse sentido, ele perguntou o que pode ser feito para contemplar a população de baixo poder aquisitivo por parte do SUS. “Vejo uma diferença muito grande”, disse.
A convidada concordou que haja disparidade entre os segmentos. Mas ressalvou que o maior problema talvez resida no acesso à educação, fato considerado de maior impacto quando se fala de medidas básicas de prevenção. “A gente precisa falar de alimentação, de atividade física, de idas ao serviço primário para exames de rotina. Ensinar a própria população de uma unidade de saúde, por exemplo, quais são os exames preventivos que devem ser pedidos”, pontuou.