Agricultura familiar garante comida de qualidade em Vitória
Quase 40% do orçamento municipal destinado à alimentação escolar é direcionado exclusivamente para a compra de produtos provenientes de agricultores familiares
Muitos estudantes da rede municipal de Vitória fazem a principal refeição diária nas escolas. Daí a importância de ofertar a eles uma alimentação de qualidade e com elevado valor nutricional.
Para garantir ainda mais alimentos saudáveis aos 42 mil estudantes matriculados na rede municipal, quase 40% do orçamento municipal destinado à alimentação escolar é direcionado exclusivamente para a compra de produtos provenientes de agricultores familiares.
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A agricultura familiar é responsável por boa parte dos alimentos que abastecem as grandes cidades brasileiras, como acontece na rede de ensino da capital capixaba.
Com presença marcante em diversos municípios do Estado, tanto na Grande Vitória quanto no interior, os pequenos agricultores e suas cooperativas contribuem diretamente para o sustento das famílias rurais e o desenvolvimento de suas regiões.
Além disso, o cooperativismo familiar capixaba traz consigo um aspecto que vai ao encontro das melhores e mais avançadas práticas sustentáveis da atualidade: a promoção de uma alimentação incrivelmente saudável, de qualidade nutricional e reconhecimento internacionais, para um número cada vez maior de pessoas.
Entre os milhares de beneficiados por essa iniciativa, estão todos os estudantes da rede pública municipal de ensino de Vitória, desde crianças até jovens e adultos. Eles contam diariamente com alimentos frescos e ricos em nutrientes no cardápio das escolas.
Qualidade
“Oferecemos o que há de melhor em alimentação, com produtos de qualidade e com valor nutricional robusto. Isso gera igualdade e a oportunidade de um novo mundo. Hoje nós temos uma primeira colação tanto de manhã quanto à tarde. Isso ajudou muito a melhorar a qualidade de ensino. Porque essa primeira refeição é uma fruta, uma vitamina, entregue pela agricultura familiar. Nós somos referência em alimentação escolar no Estado e no Brasil”, destaca o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini.
A secretária municipal de Educação, Juliana Rohsner, pondera a qualidade dos produtos entregues pela agricultura familiar aos estudantes da rede municipal:
“Nossos estudantes têm acesso ao que há de melhor em alimentação. Muitos deles experimentam uma fruta pela primeira vez na escola, é o que chamamos de alfabetização do paladar. Dessa forma, uma alimentação adequada passa a fazer parte da rotina daquela criança. Temos muito respeito e parceria com os nossos produtores”.
Juliana Rohsner, secretária municipal de Educação
“É uma forma de incentivar o pequeno agricultor. A parceria com a agricultura familiar garante produtos de qualidade, variedade e também a soberania alimentar, com itens que fazem parte do nosso cotidiano”, explica a coordenadora de alimentação escolar de Vitória, Mariana Zouain.
A aquisição de gêneros alimentícios oriundos da agricultura familiar, além de garantir um cardápio saudável e bastante nutritivo para os alunos, gera uma demanda contínua para organizações, como a Cooperativa dos Agricultores Familiares da Região Serrana do Espírito Santo (CAF Serrana) e a Cooperativa de Agricultura Familiar de Cariacica (CAFC-ES).
Cardápio
Frituras, embutidos, refrigerantes, gorduras ou balas não integram os cardápios na rede municipal de ensino de Vitória, e há opções específicas para as crianças que apresentam restrições alimentares, como diabetes, intolerância à lactose e ao glúten. Entre as novidades do cardápio, está, inclusive, filé de tilápia.
Cultivo pomerano
Em Santa Maria de Jetibá, município localizado a pouco mais de 80 quilômetros de Vitória, as famílias pomeranas Schneider e Schroeder integram o grupo de associados da CAF Serrana que fornece legumes, hortaliças e frutas para as escolas públicas municipais de Vitória.
As lavouras de alface, cenoura, gengibre e beterraba cultivadas por eles, com seus incríveis tons de verde e suas fileiras de plantio perfeitamente alinhadas, ajudam a enriquecer o cardápio dos estudantes, ao mesmo tempo em que encantam e colorem a paisagem da região, conhecida por ser a maior fornecedora de hortifrutigranjeiros do Espírito Santo.
“Entrar para a cooperativa mudou completamente nosso negócio. Antes, vendíamos de forma independente, aleatória, com valores muito baixos. Agora, além de melhores preços, temos a segurança de um fluxo previsível para escoarmos nossos produtos. Não temos mais perda nem prejuízo”, conta Sérgio Schneider.
Ao lado da esposa, Robervana Schroeder, eles são a sexta geração de duas famílias pomeranas que, assim como muitas outras, criam seus filhos e tiram seu sustento diretamente do cultivo da terra.
Ela conta que o cuidado com o manejo das culturas e com o ecossistema em que estão envolvidos, bem como a importância do trabalho que realizam, fazem parte dos valores transmitidos aos seus filhos, de geração em geração.
“Na agricultura, todas as mães ensinam aos seus filhos a importância da agricultura familiar. Eles adoram”, conta a agricultora.
Com 15 anos de existência, a CAF Serrana conta hoje com 188 famílias cooperadas. Além das hortaliças, frutas e legumes para os clientes locais e nacionais, os produtores também cultivam gengibre para exportação. A especiaria produzida pelas famílias pomeranas ajuda a consolidar o Espírito Santo como o maior produtor e exportador de gengibre do Brasil.
“A partir da nossa estrutura, que conta com novas câmaras frias monitoradas e controladas remotamente, conseguimos receber, organizar e distribuir os produtos com total eficiência. A sede da cooperativa funciona como um elo entre a produção e o destino final, fazendo com que os alimentos cheguem com uma qualidade superior, evitando perdas e desperdícios ao longo do processo”, explica Maicon Koehler, gerente de comercialização da CAF Serrana.
A força do agro capixaba
A união do agronegócio entre os pequenos produtores capixabas permite que eles negociem com mais força e organizem suas produções de forma mais eficiente, garantindo que todos os alimentos cultivados cheguem com total qualidade e segurança ao destino final.
Em Cariacica, município da Grande Vitória, o casal de agricultores Sérgio Boldi e Maria Ivanete Simões também viu no cooperativismo uma possibilidade segura e confiável de alavancar e desenvolver sua produção. Eles são membros da Cooperativa de Agricultura Familiar de Cariacica (CAFC).
A produção da família é voltada para a banana orgânica e hortaliças, que também são consumidas pelos estudantes da rede municipal de ensino de Vitória. Só em 2023, foram produzidas em sua propriedade mais de 47 toneladas de bananas, todas elas livres de qualquer tipo de agrotóxico, das quais 90% foram destinadas à demanda da cooperativa. Para este ano, a previsão é atingir 60 toneladas até dezembro.
“Trabalhando juntos, nós conseguimos cuidar de toda a lavoura e garantir produtos totalmente orgânicos. Essa nossa união é muito importante para o sucesso do negócio, e também é a essência da agricultura familiar”, conta Ivanete.
“Ficamos muito felizes por podermos consumir e fornecer alimentos tão saudáveis às escolas. Isso é bem gratificante”, revela a agricultora.
Juntos aos demais associados, ela e o marido contribuem diretamente para que a região ocupe atualmente o posto de uma das maiores produtoras de banana orgânica da América Latina.
Capacitação e conhecimento
Nascidos e criados na zona rural, Sérgio e Ivanete destacam que, além da garantia de venda por preços mais justos, o cooperativismo também permite às famílias o acesso a capacitações e suporte técnicos, fundamentais para o desenvolvimento dos negócios e para o cultivo sadio da terra, de maneira cada vez mais eficiente e sustentável.
“Graças à cooperativa e às atividades propostas, podemos contar com assistência especializada e conseguimos adquirir conhecimentos importantes para melhorar cada vez mais a qualidade do que plantamos. Com isso podemos focar no que fazemos de melhor, que é produzir alimentos saudáveis e livres de agrotóxicos”, celebra Sérgio.
No caminho certo
O impacto positivo de se investir na aquisição de alimentos em parceria com pequenos produtores e cooperativas familiares é visível nos desempenhos escolares e na saúde dos estudantes.
Essa prática promove não apenas a alimentação saudável, mas também a conscientização sobre a importância do consumo de alimentos frescos oriundos da agricultura familiar. Os resultados obtidos vão muito além da qualidade alimentar, pois promovem saúde, educação e cidadania para milhares de pessoas.
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