
Uma susposta negligência médica pode ter provocado a morte de um bebê na Santa Casa de Misericórdia de Guaçuí. Segundo a paciente e mãe do recém-nascido, a Diefane Alves, o atendimento inadequado e a demora na decisão sobre o tipo de parto foram determinantes para a perda da criança.
O caso ocorreu no fim de fevereiro. Conforme explica a mãe do bebê, no dia 27, ela começou a sentir dores leves na parte inferior do abdômen. No dia seguinte, com o agravamento das dores, decidiu procurar atendimento na Santa Casa de Guaçuí, por volta das 21h.
“Chegando lá, demoraram em torno de 15 minutos, mais ou menos, para me atender, a maternidade estava lotada. A enfermeira me atendeu, me verificou e chamou o médico de plantão”, explicou Diefane. Durante a avaliação, foi constatado que já havia dilatação de 4 a 5 centímetros, sendo necessária a internação.
Indecisão sobre o tipo de parto
Enquanto aguardava o parto, a paciente ainda destaca que avisou estar com dores intensas e sangramento, que foram considerados normais pela equipe de enfermagem da Santa Casa de Guaçuí.
“As horas foram passando, a enfermeira veio, verificou os batimentos do bebê e estavam ok. Me colocou no soro só para induzir rápido. Nisso comecei a sangrar e não parava. A enfermeira disse que era normal”, afirma.
Por volta das 2h20 da manhã, uma nova avaliação indicou que os batimentos do bebê estavam fracos. No exame de toque, portanto, houve o rompimento da bolsa, revelando a presença de mecônio (fezes do feto).
“Foi onde ela me disse que iria preparar a sala de cesária porque teríamos que fazer cesária de emergência devido o mecônio. Nesse meio tempo, os médicos estavam chegando e ela voltou para me buscar. Nisso, a enfermeira perguntou ao doutor que estava de plantão, o José Correia: o que o senhor quer fazer, leva para cesária ou tenta normal? O doutor disse: vamos normal”, relatou Diefane Alves.
Depois de um longo período na sala de parto normal, a decisão foi revista e a paciente encaminhada para cesárea. No entanto, segundo o relato da mãe do bebê, houve demora na preparação da sala cirúrgica.
Atendimento inadequado
“Aí já começou o erro, porque se era cesária de emergência devido ao mecônio, por que levar para o parto normal? Mesmo assim, fomos para sala de normal. Chegamos lá, foram me colocar no soro, me furaram umas três quatro vezes e a veia estourava, portanto, já estava toda furada. Nem estava achando veia mais”, ressaltou.
Assim, o desfecho de um momento que era para ser de felicidade foi se tornando trágico. Devido a bolsa ter se rompido, Diefane relata que já estava sangrando e as fezes saindo direto, escorrendo pela perna, pelo chão.
“Só sei que nessa brincadeira ficamos um tempo bom na sala de parto. Aí o doutor saiu em direção a porta, chamou a enfermeira e falou: vamos para cesária. E assim, fomos! Chegando lá, ainda foram acabar de arrumar a sala, e o tempo passando, perdendo tempo digamos. Me anestesiaram e, enfim, começou a cirurgia. Não deixaram minha acompanhante entrar. E foi assim que meu filho veio a óbito”, lamentou.
Bebê enterrado como indigente
Diefane ainda afirma que não teve acesso ao corpo de seu filho. De acordo com ela, a criança foi levada diretamente ao necrotério e deixado sujo, sem qualquer preparação da equipe hospitalar da Santa Casa de Guaçuí.
“Após ele nascer, levaram ele para encubadora. Me sedaram para não ver e me levaram para uma sala sozinha. Depois disso, desceram com ele para o necrotério, com o pano do hospital e, simplesmente, deixaram ele jogado lá, todo sujo como um lixo”, afirmou.

Segundo a mãe, a funerária que recolheu o corpo precisou realizar a limpeza, uma tarefa que deveria ser de responsabilidade da Santa Casa de Guaçuí. Além disso, a família não teve a oportunidade de realizar um velório adequado, e o bebê foi enterrado como indigente.
“Não trouxeram ele pra mim e o pai ver. Não tivemos acesso a ele em momento algum. Depois a funerária chegou, o hospital entregou a chave para o plano. O menino do plano, todo prestativo, teve que limpar meu filho, sabendo que não é obrigação dele. Depois enterram meu filho como indigente, porque o hospital nem deixou fazer um funeral descente para meu filho, ou seja, ninguém da família teve acesso ao meu filho”, disse.
A família pede justiça.
O que a Santa Casa de Guaçuí diz
A Santa Casa de Misericórdia de Guaçuí vem a público informar que a paciente Diefane Alves Ferreira Moura foi atendida na noite de 28/02 em nossa instituição, e na madrugada do dia 01/03 foi submetida a uma cesariana de emergência, onde o seu filho nasceu em óbito. A paciente recebeu todo o suporte da equipe multiprofissional, assim como sua família. A Santa Casa expressa sua solidariedade à família nesse momento de dor. A Santa Casa iniciou uma investigação interna para apuração e esclarecimentos dos fatos.
Caso será investigado pela Polícia Civil
A mãe do bebê, ainda na Santa Casa, acionou a Polícia Militar e registrou um boletim de ocorrência relatando o que tinha ocorrido. O caso agora será encaminhado para a Polícia Civil do município, que vai apurar se houve um erro médico, desde que haja indícios para isso.
Com relação ao enterro do bebê sem autorização da mãe, que alega estar sedada e sem condições de autorizar, a Polícia Civil vai solicitar acesso ao prontuário médico e guia da Santa Casa com a causa da morte do bebê. Além disso, vai solicitar como foi o procedimento da funerária e como foi feito. Em último caso, a Polícia Civil pode solicitar a exumação do corpo do bebê.
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