A filosofia da perseverança

A palavra “perseverança” evoca a imagem de alguém que, apesar dos ventos contrários, segue em frente.

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em 04 de nov de 2024, às 11h28

Foto: Ilustrativa/Pixabay
Foto: Ilustrativa/Pixabay

Por Eduardo Machado

A vida escolar é um terreno fértil para o crescimento, mas também para o surgimento de desafios que, muitas vezes, podem desanimar os estudantes. Nesse ambiente, o papel do professor vai muito além de instruir. Ele é aquele que incentiva o aluno a continuar, a não desistir, e a acreditar em suas próprias forças para enfrentar os obstáculos. A perseverança, vista como uma virtude filosófica, pode ser uma aliada poderosa na educação, pois ensina o aluno a lidar com as frustrações e, ao mesmo tempo, oferece ferramentas para que ele se levante sempre que cair.

A palavra “perseverança” evoca a imagem de alguém que, apesar dos ventos contrários, segue em frente. Na filosofia estoica, essa imagem é muito valorizada. Filósofos como Sêneca e Epicteto ensinaram que, embora não possamos controlar tudo o que nos acontece, podemos decidir como reagimos. No contexto escolar, isso se traduz na habilidade de enfrentar fracassos acadêmicos, como uma nota ruim, ou até mesmo desafios pessoais, como conflitos familiares e dificuldades emocionais. O professor que entende essa filosofia age como um guia, mostrando aos alunos que o fracasso é uma etapa natural do aprendizado e que a coragem está justamente em tentar mais uma vez.

É comum ver alunos que, diante de uma dificuldade, acreditam que não são capazes ou que o erro é um sinal de fracasso definitivo. É exatamente nesse momento que o professor tem uma oportunidade crucial de ensinar. O desafio é ajudar o estudante a mudar sua percepção do erro, a ver que ele faz parte do processo de construção e que não define sua capacidade ou seu valor. A perseverança, assim, se torna uma lente através da qual o aluno aprende a olhar para suas próprias dificuldades de forma mais generosa e paciente.

A filosofia também nos lembra da importância do propósito. Os antigos gregos falavam do conceito de “telos”, o fim ou propósito de cada ação e de cada vida. Quando o estudante se conecta com um objetivo, algo que ele deseja profundamente, ele encontra uma motivação que o ajuda a superar as adversidades. Cabe ao professor ajudar o aluno a descobrir esse propósito – seja na forma de um projeto de vida, de uma profissão, ou até mesmo de um valor pessoal, como querer fazer a diferença no mundo. Ao ajudar o aluno a conectar-se com aquilo que o move, o professor oferece não apenas conhecimento, mas uma razão para que ele continue em sua jornada, mesmo quando os desafios parecem intransponíveis.

Entretanto, ensinar a perseverança não é algo que se faz apenas com palavras. O exemplo do professor é crucial. Um educador que mostra resiliência, que enfrenta seus próprios desafios com dignidade e não se deixa abater pelos obstáculos, serve como um modelo vivo para os alunos. Ele demonstra que o caminho da educação é uma via de mão dupla, onde o professor também está em constante aprendizado, lutando contra dificuldades e buscando crescimento pessoal. Essa autenticidade aproxima e inspira os estudantes, mostrando que eles também são capazes de serem resilientes e fortes.

Infelizmente, há aqueles que minam esse processo ao invés de fortalecê-lo. Professores que julgam o erro de forma punitiva, que desmotivam ao invés de encorajar, ou que insistem em comparações desnecessárias entre os alunos, criam um ambiente de hostilidade e medo. Esses não-educadores, talvez sem perceber, minam a autoconfiança dos estudantes e criam barreiras que dificultam o desenvolvimento da perseverança. Em vez de serem aliados no crescimento, tornam-se obstáculos, prejudicando a capacidade dos jovens de acreditar em si mesmos e de superar seus limites. Evitar essas práticas é essencial, pois elas comprometem a saúde emocional e o desenvolvimento socioemocional dos alunos, aspectos fundamentais para a formação de adultos seguros e confiantes.

A perseverança é um dom que pode e deve ser cultivado, especialmente no ambiente escolar. Quando o aluno entende que ele pode enfrentar o que a vida lhe apresenta, que o fracasso não o define, e que a cada queda ele pode se levantar com mais sabedoria, ele se fortalece para os desafios da vida adulta. E o professor que apoia, encoraja e mostra o caminho, está, de fato, preparando-o não apenas para os exames, mas para a própria vida.

A missão de inspirar a perseverança nos estudantes é, portanto, uma das mais nobres e transformadoras que um educador pode ter. Que possamos lembrar, todos os dias, da importância de sermos faróis de esperança e resiliência na vida de cada aluno que passa por nossas mãos. Pois, ao ensinar a perseverança, estamos plantando sementes de força e coragem que florescerão ao longo de toda uma vida.

** Eduardo Machado é filósofo e professor especialista de Filosofia, licenciado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

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