A saúde mental na escola: um compromisso coletivo

Como professor de filosofia em uma escola pública estadual no Espírito Santo, diariamente me deparo com os desafios.

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em 23 de jul de 2024, às 11h23

Foto: Ilustrativa/Pixabay
Foto: Ilustrativa/Pixabay

Por Eduardo Machado

Como professor de filosofia em uma escola pública estadual no Espírito Santo, diariamente me deparo com os desafios e as demandas que a saúde mental impõe a nossos estudantes e professores. Em meio ao turbilhão de responsabilidades, expectativas e pressões, a saúde mental muitas vezes é negligenciada, apesar de ser um pilar fundamental para o bem-estar e o sucesso educacional. Em um contexto onde as realidades são múltiplas e complexas, é essencial que tratemos esse tema com a seriedade e a sensibilidade que ele merece.

A saúde mental dos estudantes é um aspecto crucial para o aprendizado e o desenvolvimento integral. Muitos jovens enfrentam problemas como ansiedade, depressão, bullying e dificuldades familiares, que podem impactar profundamente sua capacidade de se concentrar, participar e progredir na escola. Esses problemas não são apenas questões individuais, mas reflexos de um ambiente social e escolar que precisa ser mais acolhedor e inclusivo.

Como professores, temos o dever de criar um ambiente que promova a saúde mental. Isso começa com a construção de uma relação de confiança e respeito com os alunos, onde eles se sintam seguros para expressar suas emoções e dificuldades. Precisamos estar atentos aos sinais de sofrimento emocional e criar espaços de escuta ativa, onde os estudantes possam se sentir ouvidos e compreendidos. Promover atividades que incentivem o autoconhecimento, a empatia e a cooperação entre os alunos também é fundamental.

A empatia desempenha um papel central na promoção da saúde mental no ambiente escolar. Quando cultivamos a capacidade de nos colocar no lugar do outro, criamos um espaço de acolhimento e compreensão. A empatia não apenas fortalece os laços entre alunos e professores, mas também contribui para a construção de uma comunidade escolar mais solidária e coesa. Ensinar e praticar a empatia é uma ferramenta poderosa para combater o isolamento, a intolerância e o preconceito, promovendo um ambiente onde todos se sintam valorizados e apoiados. E essa empatia pode evoluir para uma ubiquidade, onde o cuidado e a atenção ao outro se tornam práticas constantes e onipresentes no ambiente escolar, permeando todas as nossas ações e relações.

Além disso, é importante que a escola ofereça apoio psicológico acessível e de qualidade. A presença de psicólogos escolares é crucial para a identificação precoce e o tratamento de problemas de saúde mental. Programas de prevenção e promoção da saúde mental, que incluam palestras, oficinas e atividades lúdicas, podem contribuir significativamente para o bem-estar dos alunos. Também é essencial que a escola mantenha uma comunicação aberta com as famílias, envolvendo-as no processo e oferecendo orientações sobre como apoiar seus filhos.

A saúde mental dos professores também merece atenção especial. Somos frequentemente expostos a altos níveis de estresse, demandas excessivas e uma carga emocional significativa. A falta de reconhecimento, os baixos salários e as condições de trabalho inadequadas são fatores que contribuem para o desgaste emocional e o burnout. É fundamental que as políticas educacionais priorizem o bem-estar dos educadores, garantindo condições de trabalho dignas e apoio emocional.

Para cuidar da nossa saúde mental, precisamos adotar práticas de autocuidado e buscar ajuda quando necessário. Isso inclui reservar tempo para atividades de lazer e descanso, praticar exercícios físicos, manter uma alimentação equilibrada e estabelecer limites claros entre o trabalho e a vida pessoal. O apoio entre colegas também é vital; criar uma rede de suporte onde possamos compartilhar experiências e desabafar é uma maneira eficaz de enfrentar os desafios do dia a dia.

No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma gama de serviços voltados para o cuidado da saúde mental, acessíveis a todos os cidadãos. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são unidades especializadas que prestam atendimento contínuo a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Além disso, o SUS disponibiliza atendimento psicológico e psiquiátrico em unidades básicas de saúde e hospitais. É fundamental que a comunidade escolar esteja ciente desses recursos e que haja uma integração eficaz entre a escola e os serviços de saúde para garantir que os alunos e professores recebam o suporte necessário.

As escolas e as secretarias de educação têm um papel crucial na promoção da saúde mental. Isso inclui a implementação de políticas que reconheçam a importância do bem-estar emocional dos professores e estudantes, oferecendo recursos e formação continuada para que possamos lidar melhor com os desafios emocionais. Programas de bem-estar, que incluam mindfulness, técnicas de relaxamento e gestão do estresse, podem ser integrados ao currículo e à rotina escolar.

A saúde mental na escola é um compromisso coletivo que envolve professores, alunos, famílias e gestores. Todos nós temos um papel a desempenhar na criação de um ambiente escolar saudável e acolhedor. Precisamos trabalhar juntos para derrubar os tabus e estigmas associados à saúde mental, promovendo uma cultura de cuidado, respeito e apoio mútuo.

Como professor de filosofia, acredito profundamente na capacidade transformadora da educação. No entanto, para que essa transformação ocorra, precisamos cuidar de nossa saúde mental e emocional. Somente assim poderemos criar um ambiente propício ao aprendizado e ao desenvolvimento integral de nossos estudantes, preparando-os para enfrentar os desafios da vida com resiliência e confiança.

Vamos, juntos, fazer da saúde mental uma prioridade em nossas escolas. O futuro de nossos jovens e o bem-estar de nossa comunidade dependem disso. É um trabalho árduo, mas essencial, e estou convencido de que, com empatia, compaixão e compromisso, podemos fazer a diferença.

** Eduardo Machado é filósofo e professor especialista de Filosofia, licenciado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

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