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Diocese destaca cachoeirense que pode ser a primeira santa capixaba

Morta de forma cruel por seu trabalho missionário junto aos indígenas, Irmã Cleusa protagonizou uma trajetória marcada pela entrega aos mais necessitados.

Por Redação

5 mins de leitura

em 28 de abr de 2024, às 08h49

Foto: Reprodução | Diocese de Cachoeiro
Foto: Reprodução | Diocese de Cachoeiro

A memória de uma religiosa que dedicou a vida à causa indígena, aos mais pobres e aos leprosos é lembrada, neste domingo (28), pela Diocese de Cachoeiro de Itapemirim. Irmã Cleusa Carolina Rody é cachoeirense e pode se tornar a primeira santa capixaba.

Morta de forma cruel por seu trabalho missionário junto aos indígenas, Irmã Cleusa protagonizou uma trajetória marcada pela entrega aos mais necessitados. E até hoje seu nome é aclamado como mártir da causa indígena pelos moradores da região de Lábrea, no Amazonas, onde foi assassinada em 1985, às margens do Rio Paciá.

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Cleusa nasceu em uma família humilde em 1933, no dia 12 de novembro. Era filha de um ferroviário e de uma dona de casa. Viveu os primeiros anos no bairro Baiminas com seus seis irmãos. Sua inteligência acima da média era notória no curso de magistério no Liceu Muniz Freire, no Ferroviários, onde foi premiada com a medalha de ouro por ter sido a melhor estudante daquele colégio. Aprendeu a falar inglês, espanhol, alemão, o que contribuiu para ajudar muitas pessoas que chegavam doentes ao Espírito Santo, pois era voluntária em hospitais e fazia a tradução, no caso de estrangeiros.

Mesmo podendo optar pela carreira na sala de aula, decidiu abraçar a vida religiosa, em 1953, quando fez seus primeiros votos, na comunidade de Ilha das Flores, Rio de Janeiro. Um ano depois, aos 21 anos de idade, foi designada para a reabertura da Casa da Missão Lábrea, onde foi fundado o Educandário Santa Rita, destinado às crianças carentes da cidade, onde trabalhou como professora primária. Mais tarde, irmã Cleusa decidiu não vestir mais o hábito religioso, usando apenas roupas simples recebidas como doação, ato motivado pelo desejo de diminuir diferenças e distâncias entre ela e as pessoas que atendia. No ano de 1958, de volta ao Espírito Santo, em Colatina, emitiu votos perpétuos de pobreza, obediência e castidade.

Irmã Cleusa Carolina abraçou a sua vocação como educadora e, no período que passou em Vitória, que se estendeu até 1973, dirigiu o Colégio Agostiniano e obteve Licenciatura Plena em Letras Anglogermânicas, na UFES, dedicando-se, também, à formação de lideranças para criar Comunidades Eclesiais de Base. Foi nessa época que irmã Cleusa Carolina voltou a adotar o nome de batismo.

O trabalho missionário estendeu-se dos centros educacionais para presídios, lares de pessoas doentes e leprosário. Em Manaus, a freira ia para as praças ao encontro dos meninos de ruas, levando para a sua casa alguns deles que corriam perigo de vida, passando assim a ser mal vista pela polícia, acusada de ser conivente com a desordem e protetora de infratores e marginais. O compromisso para com a justiça pode ser observado no trecho de uma carta enviada à outra freira, irmã Lourdes, em maio de 1978, que diz: “Temos que construir fraternidade, é necessário, mas a justiça tem que estar na base de toda a convivência humana.”

O engajamento com a causa indígena se tornou mais forte em 1982. Foi a época em que a Prelazia de Lábrea resolveu se assumir como Pastoral Indigenista. A partir daí, a irmã foi representante desse grupo no Conselho Missionário Indígena (CIMI) do Regional Norte I. Essa participação ativa na causa indigenista fez com que a freira se tornasse querida entre os índios, mas, por outro lado, incomodou aqueles que os perseguiam.

Numa região de conflito entre proprietários de terra e entre as próprias tribos indígenas, Cleusa encontrou a morte quando justamente tentava apaziguar os ânimos após um duplo assassinato, de mãe e filho. Sua execução às margens do Rio Paciá, em dia 28 de abril de 1985 aconteceu após a morte da família de um índio amigo da irmã. A freira foi até a aldeia para que não acontecesse uma vingança. No caminho de volta, encontrou um índio, que seria o autor das outras mortes. Vendo o homem, disse ao canoeiro que a acompanhava: “Caia na água, meu filho, que você tem filhos para criar!”. Ele obedeceu imediatamente. Ouviram-se vozes, disparos e, minutos mais tarde, silêncio. A partir dali, o corpo dela foi encontrado dias depois. “Fraturas múltiplas de costelas, traumatismo craniano, fratura da coluna vertebral e amputação traumática do membro superior direito em 1/3 médio do antebraço, presença de corpos estranhos metálicos (chumbo) na parede torácica anterior e na região lombar. Por isso, a análise conclui: a causa da morte, provavelmente, foi por traumatismo craniano, fratura da coluna vertebral e feridas torácicas produzidas por arma de fogo”, diz trecho do livro Cleusa Carolina Rody Coelho – Sangue Derramado, de Rosalina Menegheti.

Após a morte da irmã Cleusa, os ossos do seu braço direito, decepado na hora do crime, estão, desde o dia 02 de junho de 1991, depositados na Catedral Metropolitana de Vitória. Por causa do compromisso total com os menos favorecidos, tramita no Vaticano a beatificação da mártir da justiça e da paz.

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