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Política

“Lula precisa de pragmatismo para governar” diz governador do ES a jornal

O governador, que integra a base aliada do presidente, diz que Lula deve apostar no ajuste como forma de reconquistar aliados que já estiveram no lado dele contra adversários à direita

Por Redação

7 mins de leitura

em 17 de jun de 2024, às 11h53

Foto: Hélio Filho/Secom
Foto: Hélio Filho/Secom

Governador do Espírito Santo pela terceira vez, Renato Casagrande (PSB) defende que os políticos de esquerda devem buscar o ajuste fiscal como forma de obter “resultados efetivos” na administração pública.

O tema é espinhoso para partidos como o dele e para o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje às voltas com cobranças para entregar um maior equilíbrio nas contas do governo.

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Em entrevista concedida à jornalista Mariana, do Estadão, o governador, que integra a base aliada do presidente, diz que Lula deve apostar no ajuste como forma de reconquistar aliados que já estiveram no lado dele contra adversários à direita.

Ele também defende que Lula insista na aproximação com segmentos da sociedade mais conservadores, cada vez mais representativos no Congresso e na política. Casagrande prevê que a onda conservadora deverá prosseguir tanto nas eleições municipais deste ano quanto em 2026.

“Lula não precisa de uma agenda de esquerda. Tributação de grandes fortunas? Poderia ser um tema, mas não vai entrar. O presidente tem que ir conduzindo no dia a dia, focando na agenda econômica e nas necessidades do governo, compreendendo que esta é a realidade agora e que será a realidade daqui para frente. Não tem que levar para o Congresso Nacional nenhum debate que possa fortalecer posições ideológicas. Agora é a necessidade do pragmatismo do ato de governar”, afirma.

Confira trechos da entrevista do governador do ES:

Economistas como Arminio Fraga, que declararam apoio a Lula na eleição, apontam críticas e decepção com a condução da política fiscal do governo. O presidente perdeu apoio desses eleitores?

Precisamos entender que o ambiente para governar neste momento é mais complexo. O presidente Lula está dialogando com um Congresso de perfil muito mais conservador, então, há um choque permanente. Outra questão que é importante registrar é o debate ideológico, que é muito superficial, sem entrar em conteúdo, e que é um debate presente na sociedade. Com isso, o presidente não conquista e não consegue as vitórias que desejava para avançar, por exemplo, em medidas para ampliar receitas ou reduzir despesas, e as metas estabelecidas pelo Ministério da Fazenda têm dificuldades no Congresso Nacional.

Essa divisão que o senhor descreveu dentro do governo sobre os que são contra e a favor do ajuste fiscal reflete uma divisão dentro do PT?

Pode ser que isso seja uma parte do que acontece dentro do governo, mas mesmo que haja, dentro dos partidos, esse debate, isso tudo tem que ser feito no sentido de buscar um equilíbrio para que a gente possa, ano após ano, caminhar em direção a esse equilíbrio.

O governo Lula está sendo cobrado por fazer o ajuste fiscal apenas pelo lado da receita e não pela revisão e redução de despesas. É possível fazer isso? Por que a dificuldade em avançar na redução de despesas?

É possível fazer ajuste pelo lado da despesa e tem que ser feito. Lógico que pelo lado da receita também, aperfeiçoar a máquina arrecadatória, buscar justiça nos incentivos que são dados para que a gente tenha equilíbrio nas concessões de incentivos fiscais. É perfeitamente possível fazer isso. Mas o que consome hoje os recursos do Brasil são os juros altos para financiar a dívida. Por isso que você precisa ter um ajuste de receita e de despesa ao mesmo tempo, fazer as duas coisas, olhando as despesas correntes e de pessoal, para que a gente tenha um caminhar em direção ao controle e dar sinais claros de confiança para os juros poderem continuar caindo.

O Banco Central teve um comportamento seguro e conservador na política monetária, mas o Brasil dando exemplos de aumento de receita e também de controle de despesas, tanto no discurso quanto na prática, a gente pode reduzir os juros com maior velocidade. É um ciclo que se realimenta.

O senhor vê chances de o governo Lula dar uma guinada à esquerda, abandonar de vez a agenda do ajuste fiscal ou enfraquecê-la?

Nenhuma chance. A sociedade brasileira neste momento é mais conservadora. O presidente Lula é respeitado no campo da centro-esquerda. Nós sabemos que ele precisa buscar alianças em grupos que não têm simpatia pelo trabalho desenvolvido pela liderança dele, que não têm identidade (com ele). O que eu espero que ele faça é que ele busque politicamente estabelecer pontes de contatos com segmentos que hoje têm menos identidade com a sua atuação.

Se o governo não fizer isso fica arriscada uma eventual reeleição em 2026?

Está cedo ainda para falar da eleição de 2026, mas a eleição de 2022 já foi muito disputada. Foi uma eleição empatada praticamente, da qual saiu um Congresso conservador. E tudo aponta que o próximo Congresso eleito em 2026 também será conservador. Ou seja, não terá eleição fácil para ninguém em 2026. Não sabemos como o movimento bolsonarista se comportará, se haverá uma candidatura ou mais de uma. Se os partidos de centro-direita não alinhados ao bolsonarismo terão candidaturas ou não. É cedo para fazer essa avaliação, mas é bom que a gente reconheça sempre que o presidente Lula é um grande líder popular.

Como o senhor avalia a aproximação do governador Tarcísio de Freitas com o setor privado com vistas a 2026?

O governador de São Paulo é naturalmente candidato a presidente da República, pelo tamanho e pela importância do Estado. E quem não tem hoje um alinhamento com o presidente Lula e não tem identidade com a condução dele busca alternativas. A alternativa Bolsonaro neste momento está fora de cogitação. Então, o governador de São Paulo vira um polo de atração de quem está insatisfeito. Tanto dos que já são contra, independente do resultado do governo, quanto daqueles que apostaram no presidente, mas não estão satisfeitos.

Pode haver algum tipo de contaminação da pauta econômica pela polarização política?

Acho que não. O que pode haver são grupos que não queiram que algumas matérias andem. Mas o mais importante para o governo e para o Brasil agora é votar a reforma tributária. Eu não acredito que vá ter uma barreira nessa votação, é mais uma organização do Congresso. Mas as dificuldades são inerentes à complexidade da articulação política. Veja agora, por exemplo, a votação da ‘taxação das blusinhas’. Houve uma polarização, com diferenças dentro e fora do governo. Bolsonaro a princípio anunciou o apoio, Lula era contra, e as coisas foram mudando. Então, isso mostrou que todos os assuntos acabam se transformando num debate político. Quando as lideranças desses polos políticos se posicionam começa a ter uma disputa dentro do Congresso. Isso não tem como a gente prever, a gente tem que ir administrando.

Outros temas da área econômica podem cair nessa armadilha da polarização política? Por exemplo, a renegociação da dívida dos Estados.

Tudo o que é favorável aos Estados pode ter alguma má vontade, mas não terá polarização. O que pode ter uma polarização é a volta de um tributo, reonerar algumas atividades, como é o caso da desoneração, ou aumento de tributo, como foi o caso das blusinhas. Isso vira disputa. Mas quando você dá um benefício que tenha critérios, mesmo que favoreça Estados bolsonaristas ou não bolsonaristas, pode ter alguma dificuldade, mas não uma polarização.

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