
Com a taxação de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, que deve entrar em vigor no dia 1º de agosto, a economia capixaba será diretamente impactada. A medida, proposta pelo presidente Donald Trump, preocupa empresários e especialistas, já que o Espírito Santo tem nos EUA seu principal parceiro no comércio exterior. Setores como metalurgia, siderurgia, construção civil, papel e celulose, petróleo e café estão entre os mais expostos aos efeitos da nova tarifa.
Segundo levantamento do Connect Fecomércio-ES (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo), realizado em parceria com o Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex), os Estados Unidos lideram o ranking de destinos das exportações capixabas e ocupam a segunda posição entre os países de origem das importações. De janeiro a junho deste ano, o Espírito Santo exportou US$ 1,6 bilhão em produtos para os EUA. No mesmo período, as importações somaram US$ 1,1 bilhão. Com isso, o saldo da balança comercial capixaba no primeiro semestre ficou em US$ 492.093.987.
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Os principais produtos enviados aos EUA incluem produtos semiacabados e lingotes (US$ 498,7 milhões), grupo que inclui metais em estágio intermediário de fabricação, como aço bruto, ferro-ligas e alumínio em forma de lingotes, que servem como matéria-prima para diversos setores da indústria norte-americana.
Em seguida, ganham destaque os materiais de construção, como cal e cimento (US$ 400,7 milhões), além da celulose (US$ 250,5 milhões), minério de ferro e seus concentrados (US$ 225,9 milhões) e óleos brutos de petróleo (US$ 86,6 milhões). O café, tanto na forma torrada quanto não torrada, totalizou US$ 85,5 milhões. Também figuram entre os principais produtos exportados o ferro-gusa, geradores elétricos e especiarias.
Com a nova tarifa, esses itens devem perder competitividade no mercado norte-americano, o que pode comprometer a produção local e gerar reflexos em empregos e renda no Espírito Santo.
“Essa taxação tem potencial para frear uma parte importante das nossas exportações. Vários setores capixabas dependem da demanda americana para manter sua produção e seus empregos. Por sua própria estrutura exportadora, o Espírito Santo se coloca em uma posição vulnerável frente às novas barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos. O impacto pode se traduzir em recuo de receitas, perda de mercado e pressão sobre as cadeias produtivas locais. O momento exige atenção e preparo do setor privado para um possível redesenho nas rotas comerciais tradicionais e criação de estratégias de diversificação, uma adaptação para evitar prejuízos maiores”, alertou André Spalenza, coordenador de pesquisa do Connect Fecomércio-ES.
Tarifas do EUA
Além das exportações, as importações também reforçam a importância da relação comercial com os EUA. Entre os itens mais comprados pelo Espírito Santo estão aeronaves e equipamentos aeronáuticos (US$ 690 milhões), carvão (US$ 246,7 milhões) e veículos automóveis (US$ 47 milhões). Esses itens representam volumes significativos e estão diretamente ligados a setores como aviação, logística, energia e infraestrutura.
Para Spalenza, o momento exige união entre o setor produtivo e os representantes políticos. “É fundamental que o setor produtivo se mobilize para mitigar os impactos da medida. É necessário buscar alternativas comerciais, fortalecer os laços com outros parceiros estratégicos e apoiar as negociações internacionais lideradas pelo governo federal”.
Em resposta à medida, o governo brasileiro tem buscado reverter a decisão. Duas cartas foram enviadas ao governo dos EUA, o caso foi levado à Organização Mundial do Comércio (OMC) e uma comitiva de oito senadores brasileiros embarcará para Washington nos próximos dias a fim de dialogar com parlamentares e empresários norte-americanos.
Enquanto isso, os primeiros efeitos já começam a ser sentidos. Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) informaram que cargas com destino aos EUA estão sendo devolvidas, compras foram canceladas e frigoríficos anunciaram férias coletivas.
“É um alerta para o Espírito Santo. Nossa economia tem forte vocação exportadora, e qualquer barreira imposta ao nosso acesso a mercados estratégicos como o norte-americano pode causar impactos relevantes. É hora de planejamento e atuação em várias frentes”, concluiu Spalenza.
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